Apresentação

Sempre quis expressar minhas idéias livremente e poder interagir e integrar conhecimento ou apenas opiniões. O debate livre entre pessoas civilizadas é uma ferramenta poderosa para aprimorar o conhecimento de todos e até gerar novos conceitos, ou ainda, novas posturas de comportamento. Infelizmente muitos evitam o debate pois geralmente não se consegue mantê-lo no nível da racionalidade, e é dominado por paixões ou emoções que contaminam o resultado. A própria palavra "discussão" tem um sentido pejorativo, e é quase sempre sinônima de "briga".

Este espaço foi concebido para que pessoas troquem opiniões, conhecimento, experiências, sempre primando pelo respeito e ética pessoal. Muitas coisas que serão abordadas aqui são fatos, e contra fatos não há argumentos. Porém a interpretação dos fatos é pessoal, e deve ser respeitada. Temas polêmicos com certeza serão abordados, mas com cautela, lembrando que o objetivo não é esgotar os assuntos, mas promover a comunhão (muitas vezes até a divergência nas idéias colabora para tal, por incrível que pareça, quando há ordem e respeito entre um grupo). Espero contribuir com todos, lembrando que o objetivo é integrar, e não dividir.

"A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o conhecimento". Pv 4.7

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A política sob a visão da ética cristã




   O mundo civilizado hoje está dividido em nações livres, organizadas em sociedade com suas respectivas leis, sob sistema e forma de governo específicos. Alguns países adotam regime ditatorial, onde os direitos humanos e liberdade de expressão são cerceados, e o povo geralmente está afastado do poder. Outros países são democráticos, onde teoricamente o poder "emana do povo, e é para o povo", modelo idealizado pelos atenienses. Neste cenário aparece o cidadão, protagonista das decisões que envolvem a coletividade. Segundo Dalmo Dallari, 
 
A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”. 
 
Muitos exercem de maneira libertina os direitos que a democracia outorga aos cidadãos, enquanto outros preferem se furtar do compromisso com a cidadania, e se afastam da escolha dos seus representantes no governo. Mais além, se afastam até do debate de grandes temas que afetam diretamente a vida diária da população. Outros acreditam que seu voto é tão insignificante que não fará diferença no resultado das eleições. E acabam votando sem convicção.


Uma igreja local se identifica com a sociedade a que pertence, além de sofrer sua influência cultural e comportamental. Porém a recíproca também deveria ser verdadeira. A igreja deve influenciar a sociedade a qual está inserida, de forma pró-ativa e pragmática.


Analisemos a a ética social de Jesus. Estava plenamente inserido na sociedade a qual vivia. Participava de casamentos, ensinava nas sinagogas e nas praças, lidava tanto com pobres quanto com ricos. Ele vencia as barreiras do preconceito: ministrava a adúlteros e estrangeiros, convivia com nacionalistas e imperialistas. Buscava não o seu próprio benefício, mas buscava sarar as feridas físicas e espirituais do povo. Seu ministério aliou a ação e a proclamação das boas novas. Quando se deparava com situações que feriam seus princípios, Jesus era contundente e firme, sem medo de represálias. Defendia com autoridade suas ideias acerca da verdade.


A consciência de cada pessoa em relação ao exercício dos seus direitos e deveres políticos está intimamente ligada a ética individual. Como posso defender uma teoria, discurso, ou ainda, um candidato a cargo político, que fere meus princípios cristãos? Como vou querer reclamar de decisões tomadas nas esferas do poder se eu mesmo escolhi através do voto aquele que tomou as decisões que divirjo? Ou ainda, se me abstenho das escolhas, ou escolho meus representantes sem avaliá-los segundo meus princípios? E como fica minha ética em relação a Deus, que me escolheu para anunciar o evangelho e ser Seu apologista perante os homens e a sociedade?


Um bom perfil para alguém que elejo como meu representante no poder seria uma análise do seu caráter segundo o texto de Filipenses 4.8 : "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai."



Minha opinião pessoal é que os políticos são o reflexo da sociedade. Quando analisamos e condenamos a corrupção no governo, não podemos nos esquecer da corrupção moral da sociedade brasileira. Quando a pessoa vende seu voto em troca de favores pessoais, atravessa o sinal vermelho ou "fura" uma fila, por exemplo, está prestando um desserviço à sociedade e tal comportamento não condiz com o padrão ético e moral de um cristão. 

 
Parafraseando Rui Barbosa, sob a visão da ética cristã, 

 
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, devemos ocupar os espaços devidos na sociedade, sendo referência de convivência em comunidade para o mundo, segundo o modelo social apostólico, e eleger representantes que sigam e defendam os princípios éticos e padrões morais cristãos.”


Boas eleições!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Vida virtual

Vivemos a era da informação instantânea. Algo que aconteceu a alguns segundos atrás, no outro lado do mundo, pode ser acessado em um portal de notícias de um notebook mesmo estando deitado em sua cama. Aliás, podemos enxergar e falar (ou teclar) com alguém em tempo real. Participamos de redes sociais, como o Orkut, Facebook, Twitter. Fazemos transações bancárias pelo Home banking, assistimos aulas da faculdade por EAD através do computador. Acessamos sites através dos celulares. E mais, não guardamos mais cartas em caixas de calçados forradas com papel de presente, e sim guardamos e-mails e seus anexos. Pior, nem fotos revelamos mais, a maioria das fotos ficam ocupando grandes partes de nossos HD's. Muitas empresas nem contra-cheque imprimem mais, apenas mandam um PDF para o e-mail corporativo. É bom lembrar que estas inovações acompanham e influenciam o ritmo de vida e retratam os anseios da sociedade atual, globalizada, imediatista e que não preza pela privacidade.

Hoje em dia é quase impossível viver, pelo menos nas grandes cidades, sem ser obrigado a ter acesso a algumas das tecnologias citadas. Existe o termo de "analfabeto digital", pois se considera que o acesso e o domínio dessas tecnologias é tão importante quanto ler e escrever (ou seria ler e digitar?).

Talvez ainda não tinha me dado conta da importância que toda essa parafernália digital tem sobre nossa vida. Percebi que estamos mergulhados até o nariz nisso quando, ao instalar um software novo no meu computador, o mesmo travou, ficou "pensando" uns quinze minutos, fui obrigado a dar um Reset, e logo, ao reiniciar, o diagnóstico fatal: havia perdido todos os dados do meu computador. O HD estava vazio. Curiosamente estava instalando um software para poder fazer um backup dos meus dados. Que ironia!
Muitas coisas são irrecuperáveis como fotos, documentos de texto que eu só tinha em meio eletrônico, programas etc. Me senti como que tivesse morrido um familiar próximo. Me senti como se tivesse passado o Katrina e levado todos meus pertences, apenas me tivesse poupado a vida. 

Cabe uma reflexão. Até que ponto estamos presos a esta vida virtual, a estas coisas que mesmo não sendo palpáveis ocupam boa parte da nossa vida real? Poderia eu dizer que sofro de um "materialismo digital", que ao perder alguns gigabytes  sofri tanto? Como seria a minha vida sem acesso a um computador?

Comparo agora com uma vida contemplativa que as religiões orientais propõe. Inclusive o cristianismo primitivo (lembremo-nos que o cristianismo é uma religião oriental). Não ser apegado a coisas materiais (ou virtuais?), passar boa parte do dia meditando, orando. Ir ao encontro das pessoas, dar um abraço, ao invés de enviar um e-mail para uma lista de contatos. Pior, um spam. Na verdade a internet aproxima ou afasta as pessoas? Bem, vamos procurar o lado bom. É por isto que estou escrevendo aqui, usando este espaço eletrônico.


Estamos em um caminho irreversível. Cabe a nós usar o lado bom, que nos acrescenta, que nos edifica, e deixar aquilo que tende a nos escravizar, nos bitolar. Mas não esqueçamos a essência da vida, a essência dos relacionamentos, pois o ser humano é superior as suas próprias invenções.


 "Não ajunteis para vós tesouros na terra (ou no HD); onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração". Mt 6.19-21